Por que que a gente é assim?!
Sempre que recebemos um elogio, a gente dá logo uma desculpa, faz logo uma emenda.
Algo mais um menos assim:
- Nossa, como você está bonita hoje.
- Ah, eu saí de casa correndo, nem deu tempo de me arrumar.
Ontem fui cortar o cabelo. Entrou uma senhora e disse à moça que estava me atendendo:
- Nossa, tô vendo o cabelo novo, ficou lindo.
A moça só disse, toda sem graça, toda com vergonha, quase se sentindo uma criminosa, quase pra dentro, quase não deu pra ouvir:
- naaaada.
Minha nossa! Por que ela não disse, alto, em bom tom e orgulhosamente, algo do tipo:
- Obrigada, agora imagina o que eu vou fazer com o seu!
Nem no trabalho dela!
Por que simplesmente não dizemos obrigado?
Parece que fomos criados assim. É quase pecado reconhecer uma qualidade própria.
- Não fica se amostrando, menino!
Acredito, sim, que devemos ter humildade. Mas humildade não significa subserviência! Não significa que devemos abaixar a cabeça a tudo e a todos. Não significa, de jeito nenhum, que somos proibidos de reconhecer nossas qualidades em público. Logicamente que, como em tudo na vida, o legal mesmo é o caminho do meio. Nem oito, nem oitenta.
O problema é não cruzar essa linha. De uma hora pra outra, sem a gente perceber, podemos passar da humildade à arrogância. Mas aí vai de cada um... E tem coisas que ou se nasce sabendo ou se aprende com o tempo. Ah! Tem gente que é metida mesmo! Azar...
Um parênteses: Ô, frasezinha, hein! "E tem coisas que ou se nasce sabendo ou se aprende com o tempo." Não vou nem corrigir, só comentar mesmo, para poupar o trabalho ao leitor. Na verdade, tudo na vida pode ser classificado nestas três únicas categorias: ou se nasce sabendo, ou se aprende com o tempo ou não se aprende nunca. Brilhante eu, né?
Voltando... É tanta informação que a cabeça da gente dá um nó. Pensa só: os pais nos dizem que o importante é competir, que não faz diferença ganhar ou perder, mas quando a gente ganha eles ficam felizes. E quando a gente ganha e vai contar, comemorar, se "exibir", não pode. Mas a gente é criança!
Estou falando em primeira pessoa, mas hoje o pai sou eu. E que difícil que é pensar em tudo isso na hora de elogiar minha filha. Como é que eu digo pra ela que tanto faz se ela ganha ou perde se minha felicidade transparece somente quando ela ganha?
Como é que a gente faz? Eu quero ensinar que o importante é a beleza interior. Mas faço de tudo pra ela ficar linda. E elogio quando ela está. Não me lembro de ter visto alguém elogiar a feiura de alguém. Complicado, né?
Por favor, não é apologia. São só elucubrações. Sei que devemos elogiar as qualidades. Que Deus odeia o pecado e não, o pecador. Sei que melhoramos nossos elogios, e potencializamos seus efeitos, ao direcioná-los às boas atitudes de nossos filhos ao invés de simplesmente a sua aparência. Mas como eu disse, somente elucubrações. Apesar de tudo isso, não posso deixar de insistir que ao elogiarmos quando nossos filhos estão bonitos ou ganham, estamos aos pouquinhos ensinando-lhes que o bom mesmo é ser bonito e ganhar.
Mas ainda acredito que não vamos pro inferno por causa disso. E mais: o pai perfeito, com certeza, não vai ler este post. E nem qualquer outro! Só peço a Deus que, entre erros e acertos, meu saldo seja positivo e eu consiga cumprir meu papel.
Mas uma coisa é certa, voltando ao começo deste texto, depois dessa volta que não tinha mais fim: na próxima vez que você receber um elogio, encha a boca e diga muito obrigado, sem medo de ser feliz!
4 comentários:
Não vou ficar surpreso se teu próximo passo for apresentar um monólogo (stand-up) no sesc...
Mas voltando ao tema desse seu texto: PARABÉNS (pela pessoa, profissional e pai que vc é).
(Wander)
Você é um sacana! Quer que eu chore só pra dizer que não sou macho :)
Muito Obrigado, tio Wander!
Parabéns pelo texto e, principalmente, pelo conteúdo. Sábia reflexão! Abraço!
parabéns!
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